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Eu não consigo mais ler (e a solução para isso)

Eu não consigo mais ler.

Essa foi a constatação que tive ao tentar voltar à minha “vida normal” de leituras, estudos e aprendizados. Mas foi em vão.

Tentar voltar ao que era antes é sempre frustrante. Já repararam que nunca conseguimos ser o que já fomos? Mesmo que forcemos as coisas, tudo é diferente, assim como está sendo agora.

Durante o buraco negro que passei, era impossível ler meus livros, fazer as coisas que eu gostava e viver como se nada tivesse acontecido. Mas aqui estou, pronta pra voltar aos meus antigos hábitos, mas com certa dificuldade.

Talvez não seja pra voltar como antes, mas sim transformar e fazer de forma diferente. Vou explicar sobre a leitura.

Estou com déficit de atenção. Palavra bonita, que poderia simplesmente ter sido substituída por “leio um parágrafo, não lembro sobre o que li e abandono o livro”. E isso vêm me irritando, pois com a vontade de concluir os livros abandonados, veio também a pressão de ler tudo de uma vez. Como se eu estivesse em uma gincana na qual ganho o prêmio se mudar o status para concluído no meu Skoob.

Definitivamente, esse meu pensamento não estava funcionando, até que tive a brilhante ideia de ler apenas um por vez. E degustar, com calma, cada palavra, cada ensinamento… o tal do movimento Slow Reading (ler com calma). E então comecei por um livro que abandonei ano passado, mas que estava bastante animada com a leitura: How to Make Smart Notes, de Sonke Ahrens.

Além de estar organizando toda minha vida no Notion (assunto pra um outro post), criei uma espécie de biblioteca lá também, onde registro meus livros lidos e os que quero ler. A ideia é ter um banco de todos os livros que eu ler a partir de agora, com anotações, informações importantes (já parou pra pensar que raramente sabemos a cara do autor?) e divagações sobre a leitura que estou fazendo no momento.

Como anoto livros no notion

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Estruturei a página de cada livro do Notion pra que tenha um espaço pra foto do autor com seu nome, a estrutura do livro (capítulos) e minhas anotações. Se for livro físico, leio na minha bancada com meus marca-textos e lápis pras anotações. Se for digital, leio no mesmo lugar, com uma postura de estudos. E será um livro por vez. Apenas um.

Coloquei a meta da minha “gincana mental” de que, ao invés de ter o compromisso de concluir todos aqueles livros que abandonei, vou pegar cada um deles, reler, mergulhar nele e fazer um bom proveito.

Claro, cada um tem seu melhor jeito de leitura. Já fui aquela que lê muitas coisas ao mesmo tempo mas hoje não está sendo possível. Amanhã tudo pode mudar, mas uma coisa que aprendi (à força) é viver como o hoje permite.

Se você também está com dificuldade de atenção e não consegue ler como antes, experimente se comprometer mentalmente apenas com um livro. Pegue o que mais te motiva no momento e faça uma leitura lenta, profunda, anote as ideias como se você só tivesse aquele único livro na vida. Mudar meu relacionamento com o livro me ajudou bastante na concentração e claro, motivação pra voltar ao hábito da leitura. Agora, em modo mais slow, sem pressa, mastigando 10x cada palavra.

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Instagram: apenas seja você

Instagram: seja apenas você | Camile Carvalho

Vivemos sempre em busca da aprovação dos outros. O que postamos, o que falamos, e até mesmo – de forma insconsciente – a forma como pensamos também é influenciada pelo mundo externo. Será que nos comportamos da forma como  queremos nas redes sociais?

A busca pela aprovação do outro é muito comum na internet, principalmente o Instagram, o meu foco do texto de hoje. Há aquela sensação de que, o que venho a postar deve ser validado por likes, por corações, por comentários. Aos poucos, nos desconectamos da essência do compartilhamento de nossas vidas e passamos a compartilhar o que o outro espera de nós. Perfis com temas semelhantes passam a usar uma mesma forma de edição, criando uma identidade própria, um pertencimento a um determinado grupo. A individualidade passa a não ser mais valorizada devido a essa necessidade de encaixar-se, embora a vontade de destacar-se entre os iguais permaneça. É um eterno jogo entre o ~ fazer parte de um grupo mas ser diferente dele ~.

Como vemos por aí…

Se você é do perfil minimalista, edições bem claras são um requisito. Plantas, suculentas, uma mesa branca com um notebook sobre ela. Roupas em tons monocromáticos, listras, muitas listas nas camisas e assim uniformizamos pessoas que se encaixam no perfil minimalista. Saias coloridas e estampas? Não combina. Já, se você faz parte do grupo de studygram (uma classificação usada entre pessoas que publicam sobre seus estudos), sua letra deve ser impecável e sua mesa de estudos deve mostrar uma coleção exorbitante de marca-textos coloridos, mesmo que leve a vida inteira para usá-los.

As identidades vão se formando e cada foto postada no Instagram reforça um padrão. Os likes atuam como uma validação da estética usada e a mensagem em si, o diferencial de cada pessoa vai se deixando de lado. Por qual motivo a necessidade de aceitação em um determinado grupo é mais forte que a voz e personalidade de quem publica o conteúdo? Por que valorizamos determinadas estéticas entre os grupos? Por que buscamos pela homogeneização de um “feed organizado” fazendo com que tudo pareça muito igual a tudo que já vem sido publicado?

Vamos nos soltar dessas amarras? Desenvolver a criatividade é também dar um basta à pressão pela padronização de conteúdos. Ao colocarmos nossa identidade, nosso ponto de vista e criarmos algo que dialogue com o que pensamos e queremos mostrar ao mundo, a mensagem será mais facilmente transmitida. Aos poucos você vai criando sua própria identidade que é formado por tudo que você já viu e gostou, tudo que não gostou transformado pela sua subjetividade. Sim, você DEVE estar ali, presente no que faz. Vamos criar sem medo, colocar a nossa voz no mundo e não buscar imitar alguém que já faz sucesso?

Se você quer se destacar, não seja alguém que já existe. Seja você. Não procure se encaixar em um nicho deixando pra trás sua essência. Seja você o seu próprio nicho. Você é único e não há ninguém nesse mundo como você.

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A Magia do Silêncio: aprendendo a se calar + exercício mindfulness

Antigamente, aqui no blog, eu tinha o costume de ler um livro inteiro e fazer uma resenha dele num modelo padrão, falando sobre todas as minhas impressões sobre o conteúdo, sobre a edição, autor etc. Agora, com o retorno do blog, quero mudar um pouco o jeito de escrever meus pensamentos e sobre minhas leituras e a primeira mudança é não fazer um post padrão, mas escrever ao longo da minha leitura, as impressões que estou tendo, divagar sobre trechos que me chamaram a atenção.

Hoje vou falar sobre o livro A Magia do Silêncio, da monja budista francesa Kankyo Tannier, que na verdade já concluí a leitura, mas fiz tantas anotações e marcações, que estou relendo as passagens das quais mais gostei.

Não é muito raro encontrarmos livros que nos falam sobre a necessidade do silêncio. Em uma era conhecida também por era da ansiedade, podemos perceber claramente que temos um sério problema em permanecermos em quietude. Isso acontece por vivermos na pressão da produtividade: se não estou fazendo nada, não estou sendo útil para a sociedade, sou uma pessoa descansada, preguiçosa e, portanto, não tenho valor.

A verdade é que precisamos SIM de um momento de ócio, de silêncio, de simplesmente não fazer nada. Esvaziar-se não apenas de bens materiais é necessário para nossa saúde mental e emocional. No livro, logo nos primeiros capítulos, a monja nos fala sobre a importância de termos um minutinho de silêncio.

Nada melhor que uma pequena experiência para testar a magia do silêncio em tempo real. Não importa onde você esteja neste momento: no ônibus, na sua cama, debaixo de uma árvore (…). Observe a paisagem, retome a consciência do seu corpo, da sua respiração, e fique exatamente onde está, sem fazer nada, por alguns segundos. Um minutinho. Você percebeu os segundos se passando? Sentiu o tempo correndo mais devagar? Isso não é nada se comparado a todas as descobertas que você poderia fazer se parasse ao longo do dia e olhasse para o céu. Nosso minuto de silêncio parece parar o tempo. É mágico! – pág. 33

Um minuto. E então falamos: “não tenho tempo!” e corremos para o computador, abrimos o Facebook, olhamos para a tela do celular e rolamos eternamente o feed do Instagram vendo fotos de outras pessoas. O tempo passa, 10, 15, 30 minutos, e continuamos olhando as redes sociais sem uma finalidade específica. Quando nos damos conta, já se passou uma hora e gastamos nosso tempo com os olhos em frente a uma tela luminosa. Mas… e pra meditar? E pra fazermos silêncio? Ah… não temos tempo!

Na verdade, não damos a prioridade. Observamos as pessoas que têm o hábito da meditação diária e achamos que elas nasceram pra isso. Que foram as escolhidas por um ser divino para virem à Terra programados com o gene da meditação. Mas não. A realidade é bem diferente e a verdade é que não há diferença entre um monge que medita há 30 anos, um praticante que começou ano passado e hoje medita diariamente e você, que tentou por umas duas ou três vezes mas percebeu que a mente ficava muito agitada e ansiosa. Qual a diferença, afinal? O hábito!

Você pratica meditação?

Muitas vezes achamos linda a prática da meditação, a serenidade que proporciona, a tranquilidade após uma sessão, mas não nos permitimos praticar a ponto de tornar um hábito. E quando pensamos em hábito, já imaginamos sentar em quietude por 30 minutos sem pensar em nada, quando podemos, na verdade, colocar o timer do celular pra tocar daqui a 5 minutos e apenas fechar os olhos, ou observar a paisagem da janela.

Neste livro, a monja nos dá a opção de aproveitar o ócio, como uma forma de esvaziar a mente. Em uma parte do livro ela conta que precisou ficar alguns dias confinada em um quarto na Índia devido a um tratamento ayurvédico e tudo o que tinha pra fazer era olhar um pasto pela janela, durante horas, e torcer pra aparecer algum animal por ali pra observar. Ah, mas isso é muito tedioso, vocês pensarão (e eu também!), mas já pararam pra pensar que nós não nos permitimos viver o tédio? Em qualquer momento de possível ócio, já pegamos nossos celulares do bolso e vamos checar as redes sociais. Ou catamos algo pra ler. Em uma espera de um consultório, é muito comum observarmos cada um dos pacientes olhando para a tela, sem ao menos interagirem entre si ou olhando para o vazio.

Isso nos consome. Não estamos dando espaço suficiente para nossa mente relaxar. Estamos raciocinando o tempo todo, mesmo que checando as redes sociais de forma automática. Os estímulos chegam às nossas pupilas, nosso cérebro faz o esforço constantemente para decodificar as informações, e acabamos nem percebendo que, aquilo que fizemos apenas para não passar pela sensação do ócio, tornou-se um hábito muito difícil de tirar.

Vamos fazer um exercício?

Que tal na próxima vez que estiver esperando por algo, não pegar o celular da bolsa? Que tal agora mesmo, ao terminar a leitura deste texto, você levantar o olhar da sua tela e observar a parede, o ventilador, a janela de onde você se encontra por pelo menos 3 minutos? Preste atenção na sua respiração. Como seu corpo reage? Quer que esse tempo acabe logo? Sente algum tipo de ansiedade? Se sim, precisamos conversar um pouco mais sobre como esses hábitos de ocuparmos o tempo constantemente está nos fazendo mal.

Vá, faça essa experiência agora. Entre nesse site: Online Meditation Timer e ajuste para 5 minutos. Feche seus olhos e observe sua respiração ou mantenha o olhar fixo em algo (pode ser o ventilador ligado). Depois me conte como foi sua experiência! Estou super curiosa pra saber (e sim, também já fiz aqui em casa!)