Todos sabemos que a escravidão não ocorreu de forma homogênea. Escravos vieram de diferentes partes do continente africanos e a maioria não conseguia sequer comunicar entre si. Forçados a conviverem em um meio totalmente inóspito, os escravos enfrentaram muitas dificuldades para adaptarem-se tanto em relação ao trabalho forçado quanto entre eles próprios. Com isso desenvolveu-se uma língua que chamamos de Pídgin ou língua de contato, que é uma mistura de idiomas diferentes que formam um novo, adaptado para a situação.
A Universidade de Michigan (MSU) desenvolveu uma pesquisa a fim de estudar como ocorreu essa interação e estão trabalhando na criação de um banco de dados de biografias de escravos. O projeto The Bioraphies: The Atlantic Slaves Data Network (ASDN) foi idealizado por Hawthorne e Gwendolyn Hall, historiadores da universidade. Com isso, eles pretendem catalogar a vida de escravos de diversas origens aos moldes de um projeto já existente, o The Transatlantic Slave Trade Database, o qual reúne cerca de 35 mil viagens de navios negreiros.
O projeto ASDN tem como finalidade reunir o máximo de informações sobre essa época, para que seja estudado o comportamento de diversas regiões e reconhecer padrões. A historiadora da UFF Mariza de Carvalho Soares ressalta que geralmente os pesquisadores reúnem dados e guardam para si, e que este é um ótimo exemplo para que dados sejam compartilhados, sendo disponíveis a todos os pesquisadores do mundo. Para isso, é importante que diversos países participem colaborando com suas informações, principalmente o Brasil, que possui uma grande pesquisa na área.
Eu achei muito interessante essa proposta, pois quando falamos em escravos, o senso comum tende a coloca-los como uma grande massa uniforme. No entanto, sabemos bem que não era isso que ocorria, assim como não era culpa apenas dos colonizadores o tráfico de africanos. A ideia que nos é passada nas aulas de história é de que negros eram simplesmente capturados em suas tribos, mas na verdade já havia conflitos entre eles próprios, e a escravização era uma prática comum entre tribos inimigas. É por esse motivo que os índios – nunca antes escravizados – possuíam uma resistência muito maior do que os africanos, pois não estavam acostumados com esse sistema, ao contrário dos outros que já viviam em um meio no qual conflitos desse tipo já existiam.
De qualquer forma fico pensando como a sociedade pode ser capaz de fazer algo tão cruel, e o pior, que escravidão ainda seja uma prática comum nos dias de hoje, apenas afastado dos nossos olhos.
Site do projeto ADSN: slavebiographies.org
Fonte de consulta: Revista de História (impressa)