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Nós somos as cantoras do Rádio

Conversar com meu avô é uma das coisas mais divertidas na família. Enquanto minha avó está começando a esquecer de algumas coisas – e isso é triste – meu avô mantém uma memória desde tempos imemoráveis. Duas horas de conversa com ele já saímos expert em história do Brasil, era Vargas, Palácio da República, Rádio, início da TV e fazendas escravistas. Na ultima visita que fizemos a ele, escutamos com admiração muitas histórias antigas, como por exemplo, a época em que mal anoitecia e as famílias se reuniam em volta do rádio para ouvirem as rádio-novelas.

Hoje, com toda a tecnologia praticamente palpável, é quase impossível se colocar em um tempo em que a imaginação era quem comandava, assim como um livro, as cenas e as personagens de uma história. A TV hoje se preocupa demais com a verosimilhança, o realismo, os detalhes, a qualidade de imagem, mas, entre chiados e ajustes na antena (de chifre) é que toda a imaginação e criatividade fluía entre os membros de uma família.

Segundo meu avô, assim que se casou e veio para o Rio de Janeiro (ele de Resende/Rj, ela de Recreio/MG) resolveu realizar um sonho da minha avó: conhecer como eram produzidas as novelas. E lá foram eles no auditório de uma rádio, para acompanhar ao vivo a produção. Lembrei-me de uma disciplina do jornalismo que cursei ainda em São Paulo, sobre as rádios, na qual aprendemos como eram produzidas tais novelas, e que eu havia me encantado por isso. A era do rádio realmente foi uma era de ouro, como todo aquele glamour, a instantaneidade, a produção ao vivo entre atores ao microfone e a sonoplastia, sempre em sincronia. Agora editamos tanto um programa ou filme a ser transmitido na tela, que acaba perdendo a energia. Não é mais o presente, é o passado. Eu posso simplesmente dar “pause” no meu controle remoto e assistir mais tarde, quando eu quiser, se eu quiser.
Ah, como eu queria ter vivido naquela época. E se eu vivi, tenho certeza que fui uma fã do meu querido Orson Welles, o grande produtor de cinema e rádio, que criou “A guerra dos mundos” junto com H. G. Wells. Mas isso eu vou deixar para um outro dia, pois tenho uma paixão tão grande por ele e suas produções que não caberiam em um parágrafo final de um post.

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