A Senhora – Dostoiévski

Publicado em 1847 após o grande sucesso de Gente Pobre, A Senhoria foi recebido com grande expectativa por parte dos críticos os quais estavam considerando o jovem escritor Dostoiévski, aos 26 anos, como uma grande promessa literária. No entanto, sua novela não agradou a todos, como podemos confirmar na observação do crítico russo Bielinski, o qual afirma que a obra foi “um disparate, fruto da fantasia mirabolante do autor”. Sabemos, no entanto, que tal característica fantasiosa foi valorizada apenas depois, com a entrada do século XX, no momento em que foram sendo aceitas novas correntes de estilo literário.
A Senhoria conta a história de um intelectual e solitário jovem russo, Ordinov, o qual precisa mudar de apartamento. Porém, tudo muda ao conhecer a misteriosa Katierina, uma mulher sensível e delicada, a qual passou a habitar seu imaginário diariamente. Com uma paixão ingênua, entre devaneios e realidade, o personagem mescla narrativas sem delimitar em que momento encontra-se no plano da realidade e no plano dos sonhos – ou delírio. Tal estilo narrativo não foi bem absorvido pela crítica literária da época, sendo valorizado apenas posteriormente. 
O livro, publicado pela Editora 34, possui 120 páginas, uma ótima diagramação e páginas amareladas, o que me agrada muito. O livro é dividido em duas partes e possui algumas notas de rodapé a fim de nos familiarizarmos com referências utilizadas na época em que foi escrito além de palavras comuns em russo. Possui também um posfácio escrito pela tradutora Fátima Bianchi. Sobre o personagem, ela afirma que: “Objetivamente incapaz de resolver seu conflito com a realidade que o cerca, Ordínov encontra nos estudos uma forma de evasão. Mas quanto mais se dedica a desenvolver seu intelecto, mais impressionável se torna sua sensibilidade, mais precárias suas relações com as outras pessoas e mais irreversível a dissolução de seus vínculos com o mundo exterior.”
Particularmente eu gostei do livro embora esperasse mais do final. Talvez uma releitura me faça apreender melhor os conceitos e esclarecer alguns momentos em que a narrativa, ao meu ver, se tornou obscura. É um livro que eu indicaria para amantes da literatura, principalmente para quem quer conhecer um pouco mais sobre as obras de Dostoiévski, a fim de se fazer um estudo de sua trajetória como escritor. 
A Senhoria
Fiodór Dostoiévski
Editora 34
120 páginas

A Religião da Grande Deusa (Claudio Crow Quintino)

Para quem gosta da cultura Celta, o livro que indico é A Religião da Grande Deusa – Raízes Históricas e Sementes Filosóficas, de Claudio Crow Quintino, tradutor e pesquisador das antigas tradições pagãs europeias. A obra possui 206 páginas bem diagramadas, de cor amarelada e fonte adequada – ótimo para leitura não se tornar cansativa – e foi publicada pela editora Gaia.

Com uma leitura de fácil compreensão, mais próxima de um diálogo com o leitor, Claudio Crow faz uma abordagem histórica sobre as antigas culturas e o culto à Deusa, fundamentada em anos de pesquisa e estudos de livros de referência sobre o tema. Abordando desde as origens da religião da Deusa até os dias atuais, com a religião Wicca, Crow também explica temas muitas vezes controversos, como a ausência do símbolo do pentagrama (Selo de Salomão) nas tradições antigas, tendo sua origem em tradições judaico-cristãs e seu uso associado às tradições de magia cerimonial e não da Natural como muitos apontam. Há um capítulo, inclusive, em que é discutido a provável ligação da Wicca Gardneriana com Aleister Crowley, fundador da Golden Dawn.

Também podemos aprender sobre a simbologia Celta e a importância do número 3 para seus povos. Este número, representando o início, o meio e o fim, as três fases da lua e as três fases da Deusa, são encontrados em diversos locais na Irlanda, assim como em instrumentos descobertos pelas escavações. O triskle, portanto, é um símbolo tipicamente Celta, assim como outros que se utilizam da forma espiralada, tão comum naquela cultura na qual o tempo não era linear, mas sim em forma de espiral, e que o passado, presente e futuro acontecem em um momento único.

Outro ponto positivo do livro, é que ele aborda o que se propõe: As raízes históricas e sementes filosóficas da religião da grande Deusa, e não se perde em receitas de magias, encantamentos e rituais, como alguns outros, o que na minha opinião, não é tão importante, já que em se tratando de uma religião livre, na qual não há regras, não há a necessidade de fórmulas prontas a serem seguidas.

Para quem procura um livro que trate de forma séria e com referências bibliográficas sólidas a cultura Celta e os primórdios da religião da Deusa, é uma obra indicada. Como já exposto, o autor se abstém de incluir encantamentos, pois seu foco é totalmente baseado em pesquisas históricas e arqueológicas, ou seja, tem um outro ponto de abordagem. É uma obra que serve tanto para quem quer conhecer os fundamentos do paganismo Celta, quanto pra quem quer se aprofundar mais, já que Crow expõe de forma clara e objetiva os pontos principais, lançando mão também de trechos de outras obras, como a Anam Cara, do autor irlandês John O’Donohue, referência sobre o assunto.

“Tá Tír na n-óg ar chul an tí – tír álainn trina chéile.”

“A terra da juventude eterna está atrás da casa, e é uma bela terra que flui em si mesma.”

QUINTINO, Claudio Crow. A religião da grande Deusa. São Paulo: Editora Gaia, 2000. 208 p.

Sensibilidade: O Diário de uma Jovem Mística

“É uma escolha individual
fazer das nuvens uma tempestade
ou dissipá-las para que ressurja o brilho do sol.”

Escrito por uma carioca sob o pseudônimo Atma – alma, em sânscrito – o livro Sensibilidade é do gênero espiritualista e me chamou a atenção já nas prateleiras devido à sua capa cor de rosa. Com 308 páginas, em formato de bolso e com uma linda diagramação, possui corações impressos nas páginas internas e desenhos feitos por ela própria, já que é uma compilação de um diário real. A autora, prestes a completar 29 anos, narra sua trajetória em busca de sua realização espiritual.

Psicógrafa de um centro espírita e devota de Sathya Sai Baba, Atma consegue prender o leitor através de suas dúvidas, conquistas e descobertas referentes ao mundo espiritual. Com a sensação de que algo em sua vida mudaria ao completar 29 anos, acompanhamos sua história, com a sensação de que estamos muito próximos, que fazemos parte de sua vida. Seu diário, com quem dialoga e seus desenhos, nos coloca em contato com uma jovem simples, com extrema sensibilidade e dedicada, que não mede esforços para ajudar a quem cruza seu caminho.

O livro é recomendado àqueles que, como Atma, têm a mentalidade ampla e buscam por um avanço espiritual, desvendando seus próprios mistérios. Apesar de aparência feminina, o livro é indicado a qualquer gênero, pois as experiências espirituais são desprendidas de qualquer divisão criada pelos seres humanos. Um livro, sem dúvidas, emocionante do começo ao fim.

“Foi só uma percepção dessas meio turvas que tenho. O que importa mesmo é que a carta levou alívio para a Jeane. Ah, os olhos dela brilharam, tinha que ver! É este brilho que alimenta a minha alma, meu amigo. Entende? (…)”

Sensibilidade: Diário de uma Jovem Mística
Sensibilidade: Diário de uma Jovem Mística
Sensibilidade: Diário de uma Jovem Mística

Sensibilidade: O diário de uma jovem mística
Autora: Atma
Editora independente
Ano: 2007
307 páginas
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