Somos mais um na multidão

Estou lendo um artigo da Cicília Peruzzo sobre comunicação comunitária, no blog Na Correnteza, da minha professora Ana Lúcia Vaz, quando me deparei com seguinte citação:

As pessoas resistem ao processo de individualização e atomização, tendendo a agrupar-se em organizações comunitárias que, ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em última análise, em muitos casos, uma identidade cultural, comunal.
Paiva (2003, p.26)

Fiquei refletindo sobre a afirmação de que os seres humanos estão resistindo ao processo de individualização. Será mesmo que buscamos a coletividade? Por um lado, cada vez mais queremos fazer parte de um grupo, nos associarmos a algo, obter rótulos de identificação, para que não sejamos “excluídos” de um senso comunitário, mas ao mesmo tempo vejo que há uma forte tendência ao individualismo, deixando de lado o altruísmo. Num sistema no qual os mais fortes sobrevivem e vivemos sob constante pressão para destacarmos do outro a fim de sobrevivermos (através do capital), é de se estranhar que haja uma busca pela sensação do homogêneo.
Mas afinal, o que é comunidade? Palavra tão associada pelo senso comum a regiões pobres, como a favela, essa denominação é empregada de forma errônea. Vejamos, comunidade é um grupo que partilha dos mesmos interesses, que possuem laços de identidade. No momento em que se busca algo, se luta por algo em comum, e se compartilha interesses semelhantes, há uma comunidade, independentemente se estão no mesmo território ou não. Até aí está claro, mas por qual motivo o ser humano busca fazer parte de algo, se ao mesmo tempo compete com os demais? É estranha essa necessidade, mas talvez possa ser explicada pela busca inata de dominação. O homem vive sob constante disputa pelo poder, e como dizia Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes. Pensando nisso, sempre haverá a disputa. Será que conseguiríamos viver totalmente isolados uns dos outros? Para quem iríamos mostrar nossos méritos? Nossas roupas? Para quem conquistaríamos títulos e status? Com quem competiríamos?
A globalização puxou o nosso tapete. Nos trouxe avanços, mas também nos tornou homogêneos. Nos transformamos em números, em estatísticas, e não mais em indivíduos. Quem realmente somos? Apenas mais um na multidão. Mais um que deve viver a vida inteira em busca do reconhecimento, mas e depois? Não seremos apenas mais um? E no quê fomos importantes? No quê contribuímos? Vejo que estamos fazendo tudo invertido. Somos seres individualistas buscando fazer parte de uma comunidade, ao invés de sermos seres altruístas buscando conhecermos a nós mesmos.
Pra finalizar essa reflexão, vou deixar uma frase de Thoreau em seu livro Walden:

(…) até que ponto os homens conservariam sua posição social se tirassem suas roupas? Num caso desses, vocês saberiam dizer com toda certeza, quem, num grupo de homens civilizados, pertence à classe mais respeitada?

Esse artigo foi uma reflexão. Não tenho a pretensão de afirmar nada, é apenas o que penso, o que leio e o resultado de alguns pensamentos e pontos de vista. Gosto muito de refletir sobre a humanidade, sobre o comportamento do homem, e principalmente, sobre o sistema em que vivemos atualmente. Um sistema tão louco, que nos faz deixar de sermos nós mesmos, se é que sabemos quem somos, em função do lucro para obtermos status. Não seria tão mais fácil vivermos de forma simples?

O assassinato da escrita

Eu escrevo por prazer. Há quem consiga escrever sob pressão, mas hoje descobri que não, definitivamente não é a minha praia.

Na minha família há escritores. Personalidades do meio literário, inclusive membro da Academia Piauiense de Letras (in memorian) e, se eu herdei algum gene ligado à escrita, certamente não veio o maldito gene específico que facilita a escrita com prazo, data de validade e hora marcada (embora seja uma longa história essa ligação da minha família com a parte dos escritores).

Já trabalhei com tradução do espanhol para o português. Já trabalhei com jornalismo, escrevi artigos para jornal, revista, GC de telejornais da Record, mas nunca havia passado pela cruel experiência de produzir uma redação dissertativa-argumentativa exemplar para os alunos. Como assim exemplar? Eu não sou exemplo para ninguém! Escrevo certo por linhas tortas, divago, ando, paro, dou meia volta e volto. Acabo dando minha opinião. Ou não.

Com meu livro é diferente. Eu quero dar o melhor de mim, então apago, risco, rabisco sem medo de errar. Escrevo aqui e tomo um chá, e assim vou produzindo o que é meu, pois enquanto escrevo, matos não têm orelhas nem paredes ouvidos, ou seria olhos, boca? Tanto faz…

Ao meu ver, a escrita é uma arte. Quanto mais a estruturamos, mais distantes ficamos do que realmente queremos dizer. Escolher palavras, substituí-las, arrumar um sinônimo de última hora. Risca aqui, repara ali, e enquanto o tempo aperta, mais percebemos que o que está diante dos nossos olhos, já não é mais. Acabou, perdeu, dissipou-se como uma nuvem. As letras que ali brincavam, saltitante diante dos nossos olhos, deram lugar a cascas vazias, ocas, assassinadas friamente pela estrutura, norma gramatical, tópico frasal.

Um assunto que domino tão bem, escorrendo pelos meus dedos como água descendo bueiro adentro. Foi assim que me senti. Uma inútil tentativa de estruturar, padronizar, produzir algo exemplar. Eu não sou exemplo pra ninguém e ficaria feliz se todos seguissem meu exemplo.

Porém, contudo, todavia, pode-se concluir que o que importa é apenas let it be, pois no final de tudo, não adianta, sempre haverá a conclusão.

Espécie humana: uma mutação deletéria

Sempre me pergunto se realmente somos uma espécie evoluída. Afinal, o que é evolução? Segundo a biologia, evolução é quando ocorre uma mutação genética alterando as características nas gerações posteriores. Através das mutações pode-se adaptar ao local ou não. Alguns tipos de mutação são consideradas benéficas para a espécie, fazendo com que sobrevivam por mais tempo em determinado local. 
Há porém, as mutações deletérias. Estas são aquelas que conferem uma característica aos descendentes de uma espécie, que faça com que haja sua extinção. A seleção natural ocorre através das diferentes mutações e adaptações da espécie no ambiente.
O que é praga? Praga nada mais é que uma espécie que consome seus recursos naturais, e logo após migra, para consumir e destruir outro ambiente, e assim sucessivamente. Após esgotarem os recursos – os quais essas espécies não têm a consciência de que são finitos – entram em luta pela sobrevivência e se autoexterminam.
Alguma semelhança com a espécie humana? O ser humano, ao meu ver, não passa de uma mutação deletéria que não tem recursos físicos de autoproteção. Não temos uma carcaça rígida para proteger todo o tecido mole exposto. Não temos agilidade para fuga. Não temos asas para voar, muito menos garras e dentes para ataque e defesa. E foi com essa fragilidade que a espécie desenvolveu recursos para proteção, como agrupar-se em cavernas e confecção de lanças e outras armas.

Evoluímos tanto que chegamos ao ponto em que estamos: Prédios, sobreposição de moradias, verticalização. O excesso de população, a distribuição desigual de riquezas e exploração inconsequente dos recursos naturais nos fizeram ser o que somos hoje. Seres humanos evoluídos (?) que vivem num ritmo frenético, trabalhando como escravos do dinheiro para garantir uma boa aposentadoria. 

Que espécie evoluída é essa, que destrói o ambiente, esgota recursos, migra para destruir outro lugar, explora, disputa e mata? Não seria isso um conceito de praga?
Que espécie evoluída é essa que se acostuma com a miséria, que não se importa em destruir milhares de vidas em nome do dinheiro, de um deus ou de um ideal?
Que espécie evoluída é essa, que tem a prepotência de achar donos dos recursos naturais, manipulando-os e comercializando em troca de moedas e poder?
Não sei se algum dia já fui um pássaro, um cão ou uma árvore. Eu só sei que nascer pertencendo à espécie humana é, sem dúvida, angustiante e vergonhoso.

Somos mesmo seres evoluídos? Ou estará a nossa espécie com os dias contados?