Por onde andam as blogueiras das antigas?

Blogueira das antigas | Camile Carvalho | camilecarvalho.com

Volta e meia me pergunto por onde andam aquelas meninas que eu seguia. Algumas eu continuo acompanhando pelo Instagram. Outras, perdi completamente o contato. Lembro-me bem daquela época em que visitávamos os blogs umas das outras. Não havia feed. Não havia propaganda entre os textos (a não ser aqueles banners do Google que ganhávamos centavos por cliques). Não existia muita coisa que tem hoje, como a pressa.

Sim, eu sou saudosista. Me pego pensando que quando comecei a blogar, era uma dificuldade só. Aprendi HTML e CSS na unha. Na verdade, antes mesmo do CSS, havia plataformas de blogs que só conseguíamos colocar imagem no post se tivéssemos a imagem hospedada em algum servidor (eu usava o kit.net), copiássemos a url e embedássemos no texto do post. Era assim, nada fácil, mas era muito satisfatório ver o resultado com aqueles gifs piscantes.

Então surgiu o Fotolog. Só poderíamos postar uma única foto por dia, mas quem era vip, podia até umas 10. Claro que eu usava o gratuito, embora já tivesse feito um teste pagando, sei lá, uns 30 reais pra ter um único mês de conta vip. Eu nunca fiz muito sucesso com aquilo ali, já que usava mesmo como um álbum de fotos com os amigos. Mas eu gostava, mesmo assim. Me sentia à frente do tempo, já que a maioria dos meus amigos não ligavam muito pra aquilo ali enquanto eu, a nerd do grupo, sabia até HTML!

Eu poderia passar a madrugada inteira arrumando o blog, os posts, as imagens quebradas… sim, porque só tínhamos mesmo a madrugada de internet, já que pagávamos caro pela discagem telefônica que só cobrava um único pulso após a meia noite. Os chats da UOL, depois o ICQ que acabou como o Orkut, devido à migração em massa para o MSN.

Eu tenho saudades daquela época. Parece que tudo era mais leve, divertido e tínhamos mesmo uma comunidade. Os blogs amigos, os links, os comentários… a impressão é que nos ajudávamos mais. Ali já tinha o início de uma monetização por causa dos banners dos blogs, empresas pagavam pelo espaço quadradinho na lateral, mas eu não via tanto a competição. A imposição. Não tinha essa coisa de “você está fazendo tal coisa errada e eu vou te ensinar o certo”. Sei lá, era tudo tão mais natural, espontâneo. Escrevíamos na língua do miguxês, chega a ser engraçado lembrar. Mas também, éramos adolescentes. Jovens descobrindo todo um mundo diante de uma tela, muito diferente das novas gerações que já nasceram com um tablet grudado no nariz.

Tínhamos a hora de conectar, entrávamos na internet. Mas hoje, minha gente, não entramos mais. Sequer conseguimos sair. E é isso que me dá agonia. Deixamos a vida levar ou tentamos sair do fluxo? Os jovens de hoje não sabem como é ter uma vida sem tudo isso. Eles não têm a referência da “hora de entrar na internet”. De descer pro play pra trocar adesivos, papel de carta. Eles não sabem como era ganhar um Pogobol e sequer pensar em tirar uma foto pra postar. Não existia postar. Não existia se mostrar para o mundo, a não ser pros próprios amiguinhos do play, da rua, da escola. Era tudo mais limitado, mas era bom. No que nos transformamos agora?

Sinto que somos o último suspiro da geração que viveu sem conhecer a internet. Somos aqueles que transitamos pela vida real offline e que descobriu um mundo encantado do campo minado, Windows 3.1, as primeiras impressoras matriciais, o disquete, o mp3.

Mas, no que estamos nos transformando? Somos a geração da transição. Temos um pé lá e um pé cá. Mas manter um pé em cada barco não é nada confortável. Enquanto um barco nos puxa para o saudosismo da desconexão, o outro nos puxa para a loucura das redes sociais, do online, da produção de conteúdo e Marketing Digital.

Como manter a sanidade com tudo isso? Como manter os dois pés em equilíbrio? Como ignorar todos os avanços tecnológicos que facilitaram muito a nossa vida, mas que, nos aprisionaram nos fazendo acreditar que é isso, e fora disso não há possibilidades? Mas como lidar com a ansiedade, com a dificuldade de pertencimento, com as dancinhas dos jovens, com os xingamentos por política, com tanto caos e loucura? Como lidar?

Seríamos nós a última lanterna acesa que poderia resgatar uma vida fora do caos? Ou seríamos nós os últimos que faltam para pular de vez na vida online sem olhar para trás?

Eu não tenho respostas. Eu sinceramente gostaria de tê-las. Mas por enquanto, finjo que sei usar o Instagram, o Twitter. Sou como aquele Tio Sukita da internet. Sou dos anos 80, quase quarentona. Que passa um longo tempo de um domingo silencioso escrevendo sobre como não consegue se adequar ao mundo das Redes Sociais enquanto finge costume num app de fotos.

Essa sou eu. Perdida. Com um pé aqui e outro acolá. Sem saber se tira o pé da lama da internet ou se mergulha de vez, até o pescoço, para saber como é viver completamente do ambiente digital.

Mas, enquanto não tenho respostas aos meus questionamentos, escrevo esse texto no meu velho Word, clico no ícone de disquete para salvá-lo e abro o meu livro sobre a mesa.

Sim, pois agora, minha gente, assim que eu clicar em Publicar, eu vou sair da internet. Não, não definitivamente. Eu entrei aqui só para postar. Pois eu ainda entro na internet e saio dela…

Queria que essa última frase fosse verdade, mas acabei de receber uma mensagem pelo WhatsApp e terei que respondê-la agora. Então não, eu não consigo mais entrar e sair da internet. Já estou mergulhada nela sem perceber. Será que tem saída? Será que alguém consegue? Quem conseguiu sair, será que um dia voltará para nos contar como é a vida do outro lado, offline, lendo um livro e folheando os papeis de carta?

Se ainda existem essas pessoas, eu gostaria muito de conhecê-las.

 

Organizando a casa e a mente

Todo sábado de manhã reservo um tempo pra me organizar. Pra mim, é o tempo em que estou comigo mesma, no silêncio do apartamento após uma noite bem dormida sem ter hora pra acordar (e mesmo assim acordo cedo).

Tomo meu café da manhã com calma sem pensar nos compromissos do dia. Assisto alguns vídeos inspiradores pelo YouTube, escuto a homilia do dia enquanto começo a organização. Primeiro, a sala de estar. Varro, passo um pano nos móveis, coloco no lugar o que está desordenado. Depois, a cozinha. A impressão é que durante a semana passa um furacão, embora eu me considere muito serena em relação ao tempo, aos meus deveres e tarefas de casa. Mas há algo de especial no sábado de manhã que não sei explicar.

Hoje foi uma manhã de chuva e frio aqui no Rio de Janeiro. Após organizar tudo que precisava, sentei-me diante do meu computador e comecei a fazer uma faxina digital. Excluí, sem dó, mais de 6Gb de arquivos duplicados, inúteis, registros, fotos e imagens as quais não me eram mais úteis. Reorganizei todo o meu sistema de pastas do Google Drive e, como num passe de mágica, até parece mesmo que o computador funciona mais rapidamente após esse destralhe. Sinto que a cada nova faxina, tanto física quanto digital, sai um peso enorme dos meus ombros, pois revisito memórias do passado as quais não gostaria sequer de relembrar há alguns meses. Mas hoje, ao revisitar a poeira jogada pra debaixo do tapete, sinto que muitas feridas abertas já estão cicatrizadas.

Dizem que o tempo cura, e acredito que seja verdade. Mas acredito também que a cada dor que passamos, nos tornamos mais fortes e maduros, como numa fase de um jogo, onde os desafios aumentam a cada etapa superada.

Ah, amigos leitores, há tanto que eu gostaria de registrar aqui em palavras… Às vezes me pergunto: quem se importa com tudo isso? Mas vejam bem, essa é a história da minha vida e, por mais insignificante que possa parecer para quem me lê, pode haver uma só pessoa que derrame uma lágrima ao ter sua alma tocada por uma mísera palavra. Então escrevo. E será isso daqui pra frente: abrir uma página em branco e simplesmente deixar minha alma transbordar sobre esse teclado é como encontrar um propósito maior pra tudo aquilo que vivi.

Acho que a vida é sobre isso, entre palavras difíceis de serem escritas, varremos um chão, deletamos arquivos, pra abrir espaço mental e fazer movimentar os dedos no teclado e as palavras na cabeça pra um próximo texto mais importante.

Qual o momento da semana que vocês tiram um tempo pra organizar e limpar a casa, a vida e os pensamentos?

O meu retorno ao minimalismo

O meu retorno ao minimalismo | Blog Camile Carvalho

 

Esta semana escrevi lá no Twitter que talvez, quem sabe, eu estivesse pensando em voltar a escrever no blog. Sei que os últimos posts por aqui foram animadores: continuarei produzindo conteúdo, vou me esforçar para compartilhar as ideias mais aqui do que nas redes sociais, mas vejam bem, acabei deixando o espaço novamente entregue às moscas.

Mas de uma coisa eu posso falar: reduzi consideravelmente meu tempo nas redes sociais. Sim, eu consegui!

Eu sei que tudo anda meio obscuro no Brasil por causa das eleições, mas este não é o propósito deste post (sobre isso podemos conversar em outro lugar), e pra falar a verdade, estou sentindo demais essa energia da dualidade, dos ódios, dos excessos. Parece que tudo está transbordando e muitos estão agindo pelo medo. Sim, isso também me afetou.

Passei alguns dias com muita tensão. A ansiedade – que por muito tempo não batia à minha porta – deu as caras e cheguei a um ponto de sentir tudo muito preso no meu peito e garganta. Olhava ao meu redor e tudo que eu sentia era sufoco. Saía pras aulas do mestrado e pra dar minhas aulas de yoga e tudo parecia aliviar. Mas, era só chegar novamente em casa, que um alerta ligava e minha mente não conseguia descansar.

Nos últimos meses perdi o rumo. Caí numa onda de tentar me entender, de buscar minha identidade, e tudo que eu sentia era como uma bola de pingue-pongue, sendo jogada de um canto pro outro. Comecei a estudar Jung e isso ao mesmo tempo que abriu uma porta para um mundo encantado que eu não conhecia, também fez uma bagunça enorme na minha identidade.

Olho ao meu redor e tudo que vejo são livros, budas, incensos, velas, cristais e mais livros. Material do mestrado sobre a mesa aguardando que eu os estude. Prazos chegando ao fim. Uma viagem para a apresentação em um congresso chegando… e eu ainda me pergunto: quem sou eu, afinal?

Nesses dias de ansiedade, olhava para minha almofada de meditação zazen, ela olhava para mim e eu pensava que não, não queria meditar. Sabia que era o melhor pra mim naquele momento, mas não tinha vontade nenhuma. Até o dia em que me obriguei a sentar em quietude e fechar os olhos por 20 minutos. Sim, 20 minutos é uma eternidade quando estamos em meio a uma crise de ansiedade, mas algo que aprendi na meditação é que os primeiros 10 minutos são apenas um aquecimento, uma preparação da mente pra entrar na meditação. Fiquei 10 minutos… fiquei 20. O sininho soou com delicadeza informando o fim da meditação e a vontade que eu tinha era de ficar mais. E fiquei. Aproveitei. Ali era um espaço bom, ali eu estava bem. E fiquei mais uns minutos que acabei não contando.

Olho ao meu redor e percebo o que, de fato, está me incomodando. É TUDO isso que me acompanha. É todo esse peso, os objetos, os livros não lidos clamando por atenção. O excesso na decoração, a mistura de muita coisa que torna o espaço com a minha identidade, mas que talvez muito dali já não diga mais nada sobre mim.

Vida Minimalista.

Respirei fundo e lembrei-me de quando tudo começou. A criação do blog, a descoberta de que eu poderia sim, ter uma vida mais simples, livre dos excessos que me sufocavam. Sorri e percebi que estou entrando neste novo ciclo novamente. Tudo na vida é cíclico. Nos perdemos e nos encontramos. Temos a chave, temos o caminho para encontrarmos nosso centro. Basta apenas silenciarmos nossas mentes para que possamos escutar aquela voz interior que, muitas vezes fala suavemente, mas em outras, grita por socorro.

Desculpe, eu apenas estava tão ocupada ouvindo tudo ao meu redor que não lhe dei atenção.

Estou de volta.