Chega um momento em nossas vidas em que precisamos pisar forte no freio, desacelerar e repensar todo o caminho que trilhamos. No final de 2010 eu já estava buscando um novo modo de vida. Queria me conectar mais comigo mesma, estava insatisfeita com o modo consumista que eu estava me deixando levar sem pensar devido ao meio em que vivia e também, questões ambientais passaram a ter maior importância pra mim. Foi aí que descobri o minimalismo como estilo de vida e então criei o blog Vida Minimalista.
Conhecer sites como o Zen Habits entre tantos outros me fez ter um estalo. Era disso que eu precisava. Olhei ao redor e vi o tanto de tralha que eu tinha acumulado ao longo dos anos. Aliás, dos anos não, de toda a minha vida. Eu tinha brinquedos da minha infância que ainda estavam guardados simplesmente porque nunca havia pensado em desapegar. Tinha roupas entulhadas nas gavetas, de anos anteriores, que mal cabiam em mim – e que eu jamais sairia na rua com elas. Tinha tudo guardado, acumulado, entulhado em meu quarto. Eu não queria mais viver daquela forma, mas o que eu poderia fazer?
A primeira vez que li sobre declutter, meus olhos brilharam. Declutter, ou em português, “destralhar”, seria a solução para os meus problemas. Eu já estava cansada de manter todas aquelas memórias antigas, tanto de coisas boas quanto ruins, como se houvesse a necessidade de ter objetos e lembranças para afirmar quem eu era desde o início da minha vida. E pouco a pouco, sacola a sacola, fui deixando que tais lembranças tomassem outros rumos.
No começo era difícil. Aquela calça que não entrava mais em mim, poderia voltar a caber quem sabe, um dia. E aquele cartão de aniversário que ganhei do meu primeiro namorado? Claro que eu não iria me desfazer! Mas com o tempo, fui aprendendo a lidar com cada objeto, cada memória e cada emoção que é despertada ao encararmos os itens que estavam ali guardado por anos.
Confesso que não é fácil. É como mexer em uma casa de marimbondo, as emoções ficam descontroladas, as energias começam a remexer e, como animais furiosos, a nos picar. E a picada dói. Mas a verdade é que isso faz bem. É libertador se desfazer de memórias não tão boas. De lembranças que talvez não quiséssemos mexer, mas que por algum motivo mantivemos trancadas em nossas vidas. Desapegar de sentimentos é tão bom que parece que ficamos livres. É como perdoarmos a nós mesmos, sem nem sabermos pelo quê. É uma sensação de leveza que só quem passou por isso pode compreender.
Todas as minhas experiências no caminho do minimalismo foram registradas no blog. Aos poucos fui me desapegando, fui me livrando de tudo o que eu não era, como se estivesse me despindo. Eu queria chegar ao máximo, a fim de descobrir realmente quem eu era. Decidi ir fundo nessa jornada de autoconhecimento até chegar ao meu limite. E foi maravilhoso.
Quando nos despimos de tudo o que não somos, nos restam alguns questionamentos, como “o que estou fazendo aqui?” ou “qual a minha verdadeira missão?” e em 2014 foi um ano tão intenso nessa descoberta pessoal e espiritual que mergulhei o mais fundo que pude. E foi através de muita meditação que consegui me conhecer um pouco, me compreender e descobrir o que eu poderia fazer pra ajudar a outras pessoas. E tenho certeza que escrever é um dos caminhos.
Mas não é fácil conciliar. Um exemplo disso foi que houve momentos em que eu precisei tanto estar comigo mesma, isolada, que eu mal conseguia ter motivação pra escrever no blog Vida Minimalista. Ora, se eu estava sentindo isso e achava importante essa experiência, eu queria muito compartilhar com meus leitores. Mas se eu me dedicasse ao blog, não estaria vivendo esse momento plenamente. Às vezes precisamos mergulhar fundo em algo pra saber até onde somos capazes de ir, pra depois buscar o caminho do meio. E foi assim que consegui me compreender, me encontrar, nem que seja apenas um pouco do que eu realmente gostaria de um dia me conhecer. No entanto, a jornada é longa e nossa caminhada não para por aí.
Foram 4 anos trilhando a estrada do minimalismo. Quatro anos reduzindo, pesquisando, lendo e buscando dentro de mim as respostas que eu procurava. O blog Vida Minimalista foi muito importante tanto no registro dessa minha descoberta quanto na inspiração a outros leitores que aos poucos foram se identificando e me acompanhando. E eu sou muito grata a todos que fizeram parte do Vida Minimalista, principalmente àqueles que continuam me acompanhando aqui no novo blog. Sou grata mesmo!
Mas como nada é para sempre – e a vida é uma eterna impermanência – eu passei por uma mudança muito grande do final de 2014 pra cá. Foi um rompimento de todas as minhas certezas, em todos os campos da minha vida e não posso dizer que não foi doloroso. Foi, e muito. Mais uma prova de que nada nessa vida é eterno, fui expulsa à força da minha zona de conforto e um “chamado à ação” me fez replanejar várias áreas da minha vida, além de repensar sobre que rumos meu blog (e o minimalismo) estava levando. Quando chega um momento em que pensamos que “temos que escrever para o blog” com uma expressão cansada no rosto, é sinal de que há algo de errado. E era isso que estava acontecendo.
Ainda não tive tempo pra pensar se fiz o certo, de trazer todo o conteúdo do blog pra cá (um blog de nicho que estava crescendo, que já estava bem posicionado nas buscas do Google etc.) mas a única certeza que tenho é a que fiz o que meu coração mandou. E quer saber, não devemos nos importar com estatísticas quando algo já não está mais legal.
A verdade é que eu não consigo mais ver o movimento minimalista com a naturalidade de antes. Parece que a cada dia o minimalismo se torna uma espécie de “seita”, na qual há disputas de quem é o melhor, o mais sábio, o expert no assunto. Em vez de simplificar a vida, cria-se regras a serem seguidas, e falta pouco para estipularem líderes, se é que já não tem. Essa mudança parece que ocorreu ao mesmo tempo com a minha (ou eu que percebi isso ao repensar minha vida). Hoje eu continuo vivendo com os mesmos princípios de antes, sim. Nada mudou. Continuo defendendo a não-exploração dos animais. Continuo refletindo sobre o meu consumo. Continuo fechando a torneira quando alguém esquece aberta, jogando lixo reciclável no cesto correto, reutilizando o que tiver em casa e doando sacolas e sacolas de objetos e roupas que não uso mais. O que mudou em mim foi a forma como eu lido com meus princípios, principalmente a forma como eu demonstro. E pra haver essa mudança, eu precisava de um novo espaço, e por isso tive que criar esse blog com meu próprio nome, pra que eu pudesse escrever com mais liberdade e um pouco afastada de rótulos.
Neste exato momento da minha vida eu não estou mais reduzindo, minimalizando, me despindo de quem não sou. Cheguei num ponto em que preciso apenas adicionar o que me é importante. Estou comprando roupas novas que combinam mais comigo. Estou mudando a decoração toda do meu quarto. Estou consumindo, ainda que com consciência, produtos que têm a ver com quem eu sou. Eu passei tantos anos “fechada para balanço” que parece que neste momento as portas para um mundo novo se abriram diante dos meus olhos. Hoje eu comprei novas maquiagens. E estou feliz por descobrir tantas empresas que não testam em animais. Hoje comprei novos cabides pro meu guarda-roupa, que vai ficar mais bonito e harmonioso para guardar minhas peças novas. Hoje levei para doação mais uma sacola cheinha de roupas do ano passado que desapeguei. Hoje eu comprei e ajudei a quem precisa. Hoje estou descobrindo que posso continuar levando minha mensagem adiante, mas de uma nova maneira. E isso é fascinante.
Que o cinza fique pra trás. E que venham novas cores.
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