Eu não assisto TV. Me recuso a ficar em frente a uma tela sendo bombardeada por notícias que nunca mostram tudo, muito menos de assistir programas estúpidos de auditório. Novelas? Acho um saco. Sim, eu sou estranha e um dia isso já foi o meu pesadelo.
Na época da escola lembro que boyband era moda. Todas as minhas amigas arrancavam as calcinhas por bandas como Backstreet Boys, N’Sync e imitavam as Spice Girls. Eu era a própria ET que não achava graça em nada daquilo. Sei algumas músicas de tanto escutá-las, mas preferia outras músicas, que me faziam ser mais estranha ainda. Meu problema de autoestima quase zero me fez comprar um CD das Spice Girls pra me sentir parte de algo, o que nunca aconteceu. Tudo bem, Viva Forever é linda, mas querer me parecer com alguma das integrantes “cool” do grupo como as meninas da turma, era demais pra mim. E mais uma vez eu ficava de fora.
Demorei pra começar a gostar de atores de cinema e TV, e quando isso aconteceu, virei fã do David Carradine na série Kung Fu. Não era Brad Pitt nem Tom Cruise (como todas as garotas da minha idade na época) e sonhar em casar com o Príncipe William era no mínimo entediante. Ok que ele era bonitão, mas sejamos reais, essa história de príncipe (encantado) não existe. Eu preferia escolher o MacGyver como esposo, ou o Duncan MacLeod, o Highlander do que um bonitão que certamente olharia pra outra, nunca pra mim.
E fui crescendo assim. A estranha da escola, a dentuça de aparelho, a bobinha que era a última a ser escolhida no time de basquete nas aulas de educação física. Enquanto as garotas populares paqueravam os meninos mais bonitos, eu estava lá, com meu grupo de amigas ou conversando sobre Cavaleiros do Zodíaco, sobre extraterrestres ou treinando telepatia no recreio. Eu não era muito normal.
Mas hoje eu não assisto TV. Não gosto das bandas que todos gostam. Não gosto dos países que todos costumam gostar muito menos sigo o padrão de consumo que somos induzidos a seguir. Eu sou estranha, assistir novela me dá angústia, sou uma pessoa difícil de rotular e gosto de saber sempre o outro lado da moeda.
Tudo começou quando larguei a religião na qual fui batizada, pois queria mais respostas aos meus questionamentos pessoais não apenas seguir cegamente o que me falam. Aos poucos fui conquistando um espaço em mim mesma, uma estranha segurança de que o legal não é ser igual, mas sim diferente. Aos poucos conheci pessoas que me mostraram a importância de um livro. A importância de um idioma. A importância de pensar. Aos poucos me dei conta de que cada um de nós é precioso. Somos como uma joia que precisa ser lapidada até brilharmos. Me dei conta de que não existe o diferente, apenas personalidades. Percebi que às vezes, querer ser igual a todos abafa o que temos de melhor. E o que temos de melhor nada mais é que as nossas particularidades.
Hoje, eu não sou diferente. Eu apenas sou eu. Por que pra ser diferente, temos que ter uma referência de algo como sendo o normal. E ser normal, na minha visão de mundo, não é lá muito interessante.