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Quando é a Hora de Parar?

Quando estamos com nossas vidas organizadas, é normal que sintamos mais disposição e confiança, principalmente pra enfrentarmos novos desafios, que podem resultar em novos compromissos. Firmamos acordos, ingressamos em cursos, mas nem sempre sabemos a hora de parar, o que resulta numa sobrecarga.

É de extrema importância que saibamos a hora de parar. Como exemplo disso, tenho a minha rotina. Tenho a mania de querer abraçar o mundo, tudo é interessante pra mim, quero aprender mais e mais, e costumo dizer que “Uma vida é muito pouco tempo pra aprender tudo o que quero”. E aí que está o problema. Muitas vezes queremos fazer mil coisas ao mesmo tempo e não conseguimos manter o foco em uma só, obtendo um resultado mais ou menos e não como o esperado. Ainda que eu possua todo um sistema de organização pessoal, utilize o GTD e a Técnica Pomodoro, comprometer-se com muito nem sempre é proveitoso.

Passei por um momento um tanto tenso nesses últimos meses, no qual saía de manhã cedo e só voltava à noite pra casa. Quando chegava, não tinha energia pra mais nada, apenas jantar, deitar-me na cama após um bom banho, checar meus emails, conversar com alguns amigos e dormir. Minha produtividade caiu consideravelmente, tanto que alguns leitores entraram em contato comigo pedindo pra que eu voltasse a escrever aqui. Por diversas vezes tive um insight durante o dia de um bom artigo, anotava no meu caderninho, e quando chegava em casa, parecia que as ideias haviam se perdido ao longo do dia e não conseguia começar sequer o primeiro parágrafo.

Acho sim, que devemos nos sacrificar um pouco pra obtermos algo que queremos, obter bons resultados. Mas quando é a hora de parar? Será que querer dar o melhor de si a todo momento é produtivo? Na prática percebi que quanto mais eu me esforçava, menos energia eu tinha pra fazer tudo o que precisava ser feito corretamente. Comecei a abrir mão de algumas coisas, faltei algumas aulas pra recuperar o fôlego pra realizar outra coisa, e como costumamos falar, dei um “jeitinho brasileiro” de lidar com tudo isso.

Isso foi bom? Definitivamente não.

Temos que saber a hora de parar. Não podemos abraçar o mundo, temos que saber a hora de dizer não. Analisar o que nos é proposto também é essencial, não apenas nossa lista de afazeres do dia-a-dia, afinal, somos seres humanos, temos nossas limitações físicas e psicológicas. Cobrança demais nos causa ansiedade, e mente agitada não produz com capacidade total. É normal querermos resolver milhões de coisas ao mesmo tempo, mas primeiro devemos nos ajudar. Em um mundo hiperconectado, no qual somos bombardeados com informações constantemente, temos que ligar o nosso filtro e só deixar absorver aquilo que nos é de extrema importância. Estou nesse exato momento reprogramando minhas metas, meus compromissos, decidindo o que continua e o que será eliminado. É importante que façamos essa revisão sempre que nos sentimos ansiosos, estressados e improdutivos.

Vamos reduzir um pouco nossa velocidade e aprender a dizer mais não? O quê você tem se comprometido a fazer que está te tirando o sono? É tão importante ou você apenas não quer causar desconforto com alguma pessoa querida dizendo não? Reveja seus comprometimentos, pode ser que você esteja sobrecarregado com algo não tão importante e que esteja prejudicando aquilo que lhe é de extremo valor.

Reduza!

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Educação Infantil Inclusiva

Olá, pessoal, tudo bem? Hoje vim aqui contar um pouquinho a vocês sobre a minha experiência com a Educação Infantil. Há mais ou menos 1 mês que venho acompanhando de perto a rotina de uma pré-escola, e estou no mínimo encantada. Minha rotina tem sido Faculdade – Escola – Faculdade, e por incrível que pareça, as crianças têm renovado minhas energias.
Estou desenvolvendo um trabalho com educação especial em uma Escola Municipal. Minha aluna, a querida T. (vou preserva-la, ok?) é portadora de paralisia cerebral, tendo pequenas dificuldades de acompanhar o andamento da turma e é aí que eu entro na história. Sou sua mediadora, e desenvolvo um trabalho de estimula-la pra que acompanhe as atividades com os outros alunos.

Claro, que nem tudo são flores, e não posso negar que muitos que acompanharam esse novo processo de “inclusão” do governo (sim, entre aspas), sente um pouco de revolta ao perceber que na realidade o aluno portador de deficiência não recebe um atendimento adequado, como receberia em uma classe especial com profissionais dedicados à eles. Essa nova inclusão coloca um aluno especial em uma classe regular, independente de sua deficiência. Ou seja, podemos ter um aluno com deficiência auditiva tendo aulas com um professor que não sabe se comunicar em Libras. Podemos ter um aluno com deficiência visual em uma classe que não possui recursos de áudio para que este acompanhe a classe. Confesso que na primeira semana fiquei bem indignada com a situação, mas como sou brasileira, não desisto nunca. A realidade é que não tem como colocar todos os alunos portadores de deficiência do município com um professor mediador, sendo assim, dá pra perceber como a situação é um tanto delicada…

Por outro lado, temos o grande carinho dos outros alunos da classe. Temos 23 alunos, e nunca imaginei que receberia tanto amor. Abraços, beijos, desenhos de presente… Como não gostar desses pequenos? Muitos dizem que sou louca por estar entrando na educação infantil. Outros já me disseram “cuidado! Ao entrar, você vai se apaixonar tanto que não vai mais querer sair…”. Eu só sei de uma coisa: Quer melhorar sua autoestima? Se jogue numa turma de pré-escola! Eu já perdi as contas de quantos Eu Te Amo escuto por dia. Principalmente de um aluno TDAH… Ah, psicólogos… Queria tanto que reconhecessem esses pequenos índigos… Mas isso vai ficar pra um próximo post. 🙂

E agora, algumas pérolas das crianças:



– Tia, você sabe por que o Popeye é forte?
– Não, por que?
– Porque ele fuma o dia inteiro!
(Sim, as crianças reparam em tudo, principalmente quando o desenho não é muito instrutivo…)
Agora a pérola de um índigo, ops, um TDAH:

– C., coloque o nome e a data no seu desenho.
– Tia, eu não vou colocar número no meu desenho…
– Mas por quê? Tem que colocar o nome e a data…
– Tia, eu não entendo por que tem que colocar número no desenho. Desenho é pra ser desenho. Um número estraga. Olha lá no mural! Seria mais bonito se os desenhos não tivessem números…
– Ok, C., coloque atrás da folha então…

E pra finalizar:



-Tia, quantos anos você tem?
– Quantos anos você acha que eu tenho?
– Ah, não sei.. 15?
– Obrigada pela gentileza!
Por hoje é só!
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Somos mais um na multidão

Estou lendo um artigo da Cicília Peruzzo sobre comunicação comunitária, no blog Na Correnteza, da minha professora Ana Lúcia Vaz, quando me deparei com seguinte citação:

As pessoas resistem ao processo de individualização e atomização, tendendo a agrupar-se em organizações comunitárias que, ao longo do tempo, geram um sentimento de pertença e, em última análise, em muitos casos, uma identidade cultural, comunal.
Paiva (2003, p.26)

Fiquei refletindo sobre a afirmação de que os seres humanos estão resistindo ao processo de individualização. Será mesmo que buscamos a coletividade? Por um lado, cada vez mais queremos fazer parte de um grupo, nos associarmos a algo, obter rótulos de identificação, para que não sejamos “excluídos” de um senso comunitário, mas ao mesmo tempo vejo que há uma forte tendência ao individualismo, deixando de lado o altruísmo. Num sistema no qual os mais fortes sobrevivem e vivemos sob constante pressão para destacarmos do outro a fim de sobrevivermos (através do capital), é de se estranhar que haja uma busca pela sensação do homogêneo.
Mas afinal, o que é comunidade? Palavra tão associada pelo senso comum a regiões pobres, como a favela, essa denominação é empregada de forma errônea. Vejamos, comunidade é um grupo que partilha dos mesmos interesses, que possuem laços de identidade. No momento em que se busca algo, se luta por algo em comum, e se compartilha interesses semelhantes, há uma comunidade, independentemente se estão no mesmo território ou não. Até aí está claro, mas por qual motivo o ser humano busca fazer parte de algo, se ao mesmo tempo compete com os demais? É estranha essa necessidade, mas talvez possa ser explicada pela busca inata de dominação. O homem vive sob constante disputa pelo poder, e como dizia Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes. Pensando nisso, sempre haverá a disputa. Será que conseguiríamos viver totalmente isolados uns dos outros? Para quem iríamos mostrar nossos méritos? Nossas roupas? Para quem conquistaríamos títulos e status? Com quem competiríamos?
A globalização puxou o nosso tapete. Nos trouxe avanços, mas também nos tornou homogêneos. Nos transformamos em números, em estatísticas, e não mais em indivíduos. Quem realmente somos? Apenas mais um na multidão. Mais um que deve viver a vida inteira em busca do reconhecimento, mas e depois? Não seremos apenas mais um? E no quê fomos importantes? No quê contribuímos? Vejo que estamos fazendo tudo invertido. Somos seres individualistas buscando fazer parte de uma comunidade, ao invés de sermos seres altruístas buscando conhecermos a nós mesmos.
Pra finalizar essa reflexão, vou deixar uma frase de Thoreau em seu livro Walden:

(…) até que ponto os homens conservariam sua posição social se tirassem suas roupas? Num caso desses, vocês saberiam dizer com toda certeza, quem, num grupo de homens civilizados, pertence à classe mais respeitada?

Esse artigo foi uma reflexão. Não tenho a pretensão de afirmar nada, é apenas o que penso, o que leio e o resultado de alguns pensamentos e pontos de vista. Gosto muito de refletir sobre a humanidade, sobre o comportamento do homem, e principalmente, sobre o sistema em que vivemos atualmente. Um sistema tão louco, que nos faz deixar de sermos nós mesmos, se é que sabemos quem somos, em função do lucro para obtermos status. Não seria tão mais fácil vivermos de forma simples?