Eu escrevo por prazer. Há quem consiga escrever sob pressão, mas hoje descobri que não, definitivamente não é a minha praia.
Na minha família há escritores. Personalidades do meio literário, inclusive membro da Academia Piauiense de Letras (in memorian) e, se eu herdei algum gene ligado à escrita, certamente não veio o maldito gene específico que facilita a escrita com prazo, data de validade e hora marcada (embora seja uma longa história essa ligação da minha família com a parte dos escritores).
Já trabalhei com tradução do espanhol para o português. Já trabalhei com jornalismo, escrevi artigos para jornal, revista, GC de telejornais da Record, mas nunca havia passado pela cruel experiência de produzir uma redação dissertativa-argumentativa exemplar para os alunos. Como assim exemplar? Eu não sou exemplo para ninguém! Escrevo certo por linhas tortas, divago, ando, paro, dou meia volta e volto. Acabo dando minha opinião. Ou não.
Com meu livro é diferente. Eu quero dar o melhor de mim, então apago, risco, rabisco sem medo de errar. Escrevo aqui e tomo um chá, e assim vou produzindo o que é meu, pois enquanto escrevo, matos não têm orelhas nem paredes ouvidos, ou seria olhos, boca? Tanto faz…
Ao meu ver, a escrita é uma arte. Quanto mais a estruturamos, mais distantes ficamos do que realmente queremos dizer. Escolher palavras, substituí-las, arrumar um sinônimo de última hora. Risca aqui, repara ali, e enquanto o tempo aperta, mais percebemos que o que está diante dos nossos olhos, já não é mais. Acabou, perdeu, dissipou-se como uma nuvem. As letras que ali brincavam, saltitante diante dos nossos olhos, deram lugar a cascas vazias, ocas, assassinadas friamente pela estrutura, norma gramatical, tópico frasal.
Um assunto que domino tão bem, escorrendo pelos meus dedos como água descendo bueiro adentro. Foi assim que me senti. Uma inútil tentativa de estruturar, padronizar, produzir algo exemplar. Eu não sou exemplo pra ninguém e ficaria feliz se todos seguissem meu exemplo.
Porém, contudo, todavia, pode-se concluir que o que importa é apenas let it be, pois no final de tudo, não adianta, sempre haverá a conclusão.