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Face-to-face: A Dona que eu Amo

Lady Owen, de Alan Lee


A Dona que eu Amo

A dona que eu am’e tenho por senhor
amostráde-mi-a 
Deus, se vos en prazer for,
se non, dáde-mi a morte.
A que tenh’eu por lume destes olhos meus
e por que choran sempr’, 
amostráde-mi-a, Deus,
se non, dáde-mi a morte.
Essa que vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ai Deus!,
 fazéde-mi-a veer,
se non, dáde-mi a morte.
Ai Deus, que mi-a fezestes mais ca min amar, 
mostráde-mi-a u possa con ela falar,
se non, dáde-mi a morte.
[Bernal de Bonaval]
+++
A Literatura galega começou com o trovadorismo e suas poesias eram divididas em cantigas de amor, de amigo, de escárnio e mal-dizer. Bernal de Bonaval, do século XIII foi um dos primeiros a utilizar a escrita galego-português como língua literária. A cantiga fala de um homem apaixonado e que, caso não tenha o feedback dessa mulher, preferirá a morte. Algumas palavras galegas podem não ser compreendidas por nós [brasileiros] como lume = fogo, luz; falar = namorar e U = onde, em que lugar. Dizem que uma boa arte ultrapassa o limite do tempo e é o que acontece com essas obras.
Fico tentando imaginar como seriam esses trovadores na época atual. Quem hoje chora pelo outro, prefere a morte ao desprezo da pessoa amada e põe a culpa em Deus por ter se apaixonado? É muito mais importante esconder os sentimentos, seguir normas de como conquistar alguém – o famoso “vou fingir que não estou afim” – e nunca deixar transparecer o que um realmente sente pelo outro. Usar o escudo é muito mais fácil, assim como nunca ser o primeiro a ceder. Dizer “eu te amo”? Só depois de um bom tempo de namoro, e a partir daí, substituir o “bom dia” por essa frase. Como estamos superficiais! Ora, se o amor é o mais belo sentimento, que mal há em demonstrá-lo?
É verdade que o mundo pós-modernizou-se, tudo girando rápido demais, no entanto, mujeres y hombres, pisemos um pouco no freio e reparemos mais o que está ao nosso redor. Vamos pensar mais em nossas relações interpessoais e valorizar o elo face-to-face sem ser face-to-book. Vamos parar um pouco de curtir pessoas e passemos a curtir sentimentos, afinal, suspirar um pouco pensando em alguém de vez em quando faz bem. Bauman aprova.

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