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Ou ele ou eu

Jörn Kaspuhl
Estávamos dividindo o mesmo elevador. Ele lá e eu cá. Alguns o observavam segurando o riso, outros fingiram não o ver, para que não houvesse a menor possibilidade de um assunto sem nexo ser puxado. Era uma figura excêntrica, intrigante e vestia-se de forma inadequada para o ambiente. Louco. E são esses loucos quem mais me chamam atenção.



Eu ainda acredito na humanidade, apesar de achar que há seres que habitam o nosso planeta que deveriam estar em outro, anos-luz longe daqui, de preferência em um local inóspito com o direito apenas de obter oxigênio. Ou não. Mas temos os loucos. E são esses que me causam um certo estranhamento e ao mesmo tempo curiosidade. Em um bom português, fascínio. Quem são eles, afinal? Serão os loucos tão desprezíveis assim ou seriam eles algo muito além do que podemos compreender?
Penso se um dia, fora da matrix, descubramos que os loucos são os normais e os normais são os diferentes, que tragédia que não seria percebermos que nosso modo robô-correto-na-sociedade seja um indício de insanidade. Sim, insanos, pois vivemos com medo de não encaixarmos em um padrão estruturado pré-determinado. Não seria o padrão algo fora do padrão? E se fizéssemos o que gostaríamos de fazer? E se obtêssemos a liberdade, nem que fosse por um dia?
O elevador abriu suas portas e um olhar simpático do louco adentrou minha alma, como se respondesse a mim tudo o que eu havia pensado nesse curto espaço de tempo. Querida jovem, você não pediu pra nascer e ainda lhe fazem exigências?

A porta fechou-se e nunca mais o vi.

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