Após o declutter das minhas roupas, foi a vez de encarar, enfim, meus livros. Não me considero uma compradora compulsiva de livros, mas de fato compro mais do que leio. Alguns por empolgação do momento, outros por causa de alguma promoção, e o conselho que sempre dou em relação às roupas, nem sempre as sigo quando se trata de livros.
E não é só com papel que tenho esse apego (ou seria acúmulo?), já que passando os olhos pelo meu Kindle pude perceber o quanto também tenho de títulos aguardando um dia serem lidos, mas que tenho a certeza de que jamais abrirei a primeira página.
Pra falar a verdade, meu desapego começou pelos livros digitais. Claro, é muito mais fácil sair deletando arquivos, pois sabemos que de uma forma ou de outra sempre podemos encontrá-lo novamente pela rede, pelo computador ou – o que é melhor – quando compramos uma edição pela Amazon, ela fica ali, guardadinha “para sempre”.
Não tive dó de excluir os arquivos e prometi a mim mesma que só adicionaria novos títulos caso eu realmente fosse ler.
Agora, em relação aos livros físicos, aí que vem o problema…
Sim, sou apegada aos livros. Lembro-me de uma época por volta dos anos 2000 em que eu não tinha lá muitos livros em casa. Claro, aqueles da escola, da faculdade, eu até os mantinha guardados, mas ir a uma livraria e voltar com uma sacolinha era muito, muito raro.
Até que em 2008 eu fui morar em São Paulo. Um novo mundo se abriu quando, além de conhecer um amigo intelectual com quem eu dividia a casa e que me incentivou a fazer leituras acadêmicas, eu estava na terra da garoa, ou melhor, da Livraria Cultura da Avenida Paulista. Ali começou minha verdadeira história com os livros…
Passei a ler mais, a ler de tudo um pouco. De ensaios a poesia, de autoajuda a sânscrito, e com isso minha biblioteca foi aumentando. De volta ao Rio de Janeiro e a facilidade de comprar online, minhas prateleiras ficaram pequenas, e a cada promoção, logo o porteiro tocava a campainha para entregar mais uma caixinha. E assim tornei-me uma compradora de livros, diferente de leitora.
Meu gosto foi mudando, alguns livros já não combinavam mais comigo, mas ainda assim eu os mantinha na estante. Alguns, por orgulho de tê-los, outros, escondia por não me identificar mais. Mas a pena de passá-los adiante falava mais alto e embora eu tenha vendido ou doado alguns, a maioria ficava ali, como um troféu.
Livros são muito mais que páginas escritas. São muito mais que histórias. É um símbolo, representa um status, e quando compreendi que aqueles livros parados na estante estavam ali apenas por causa de um ar de intelectualidade, foi o clique que eu precisava pra começar a trabalhar o desapego.
Não é a quantidade de livros que vai me fazer ser mais ou menos inteligente. Não é o número que me faz sábia. Mas sim, o quanto aprendi com aquelas leituras. Como cada uma delas, principalmente releituras.
Peguei uma caixa de papelão e ali prometi enchê-la de livros para doação. A cada livro que pegava em minhas mãos, um misto de sentimento de culpa com gratidão me faziam colocá-los, um a um empilhados com carinho. Este nunca li, vou passar adiante. Este eu já li, vou passar adiante…
E assim fui enchendo a caixa. Livros intocados, expectativas, uma Camile com a qual já não me reconheço. E ali fui me vendo, como em frente a um espelho, as várias fases pelas quais passei. Mistério, magia, idiomas, história, literatura, empreendedorismo, autoajuda e muito mais. No fim, duas pilhas de livros estavam na minha frente. Não revisei, apenas coloquei em duas sacolas e deixei ao lado da porta da sala. Do que restou, fiz uma nova revisão. E, novamente, comecei a encher a caixa de papelão com alguns títulos que poderia vender ou doar a amigos.
Não vou mentir dizendo que fiquei com poucos livros. Não, eu ainda tenho muitos. Mas os que mantive dizem muito mais de mim, refletem o meu momento, minhas necessidades de estudos e sim, foram selecionados a dedo. Começando uma nova fase, um novo ciclo, preciso de livros melhores, acadêmicos, de bons autores. Para meu trabalho, mantenho minha biblioteca de yoga, filosofia, budismo… mas apenas de bons autores. Bons autores assim como amigos cujos livros possuem um cantinho especial em minha prateleira.
Olho ao meu redor agora e me sinto bem. Mais leve, melhor representada. A vontade de sentar-me no frio com minha manta, com um chá do lado e abrir qualquer um dos livros que me cercam só me faz ter a certeza de que sim, fiz a escolha certa.
Sobre os livros que doei? São poucos dos quais me lembro o título. Tenho certeza que serão muito mais úteis nas mãos de uma outra pessoa do que empoeirados sobre uma prateleira.
Daqui em diante me comprometo a comprar apenas bons livros, dos quais vou ler, reler e consultar sempre. Literatura pretendo comprar apenas pelo Kindle. Nada de aproveitar promoções de autoajuda, marketing, desenvolvimento pessoal etc. Nada contra, mas leituras de uma só vez serão feitas apenas pelo Kindle.
Estou mudando muito a minha forma como lido com um livro e aos poucos vou compartilhando ainda mais essas impressões por aqui.
E vocês, como lidam com seus livros? Têm apego? Leem em formato digital ou precisam ter o papel em mãos? Conte sua experiência!