Ultimamente tenho notado um crescente incômodo das pessoas em relação à opinião e gosto alheio. Não precisa ir muito longe. Constantemente me deparo com algum debate acalorado pela internet quando alguém cita que não gostou de 50 tons de cinza, por exemplo. E então surgem dezenas de internautas para apedrejar quem deu a opinião e defender a qualidade da obra, algumas vezes até passando do limite do debate saudável sobre o tema extrapolando para a agressividade direcionada a quem teve uma opinião divergente. Ódio gratuito.
Estamos vivendo uma cultura na qual o nosso ego sempre fala mais alto. Temos a mania de achar que nossa opinião, nossos gostos e modo de viver é o mais correto e o outro está sempre errado. O outro não pode ter sua própria opinião, não pode pensar diferente, pois isso só demonstra o quanto ele não é tão inteligente como eu. Não é tão perspicaz como eu. E continuamos ecoando eternamente o eu, eu e eu…
Também vivemos em uma cultura na qual temos que ter um argumento plausível para tudo. Se não gostamos de algo e não temos um fundamento para esse “não-gostar” caso nos deparemos com alguém de opinião oposta, somos massacrados por frases intelectuais e sufocados por argumentos que provam por A mais B que estamos errados por não termos gostado de algo que todos estão gostando. E aí que me questiono, o que é gostar de algo?
Eu não preciso refletir e fazer um artigo científico com argumentos válidos sobre os motivos de ter simplesmente me identificado com um filme, livro ou artista. Gostar de algo ou alguém vai muito além de um simples argumento racional. Um filme pode ser considerado fraco pela crítica e ter se tornado o meu favorito do ano. Uma cantora pode ser desafinada, mas por seu carisma, ter conquistado alguns fãs. O que não podemos é querer julgar e convencer do contrário quando alguém gosta ou desgosta de algo.
Trocar ideias sobre um assunto que causa opiniões diferentes é saudável. Às vezes não nos identificamos com algo por simplesmente desconhecer algum fato interessante. E então quando temos mais informações, podemos passar a admirar o que antes não nos causava identificação. O mesmo pode ocorrer de forma contrária, de gostarmos de algo e ao sabermos de mais detalhes, passarmos a não gostar tanto como antes. E isso é normal. Essa troca de informações é saudável, pois é uma forma de adquirirmos conhecimento e sabermos um pouco da visão do outro sobre um objeto. No entanto, impôr nossa opinião ao outro e subjugarmos a quem tem gosto diferente já é um grande sinal de que nosso ego está saindo um pouco do controle.
Por um mundo com menos agressividade e com mais respeito à opinião alheia. Ninguém é obrigado a gostar do mesmo que nós. Nem do filme, nem do livro, na política ou no estilo de vida. Por um mundo com menos pessoas tentando nos convencer de que suas escolhas são as melhores e as nossas, as piores. Por um mundo no qual possamos ser livres para gostarmos de coisas consideradas ruins e não gostarmos de coisas consideradas boas. Porque na maioria das vezes é apenas uma opinião. E a nossa subjetividade, nossas opiniões diferentes, é o que constrói nossa identidade. É o que nos faz sermos quem somos.
Por um mundo com menos ódio e mais respeito.
❤ Vamos minimalizar nossa agressividade? ❤
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