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Reflexões sobre o desapego

Reflexões sobre o desapego | Vida Minimalista

Hoje eu vou contar um pouco sobre uma reflexão que tive ao destralhar uma das partes do meu guarda-roupa hoje. Nele guardo algumas pastas, resultado de um antigo mega-declutter, um dos primeiros que fiz no meu quarto em 2010. Desde então mantive esse lugar inalterado, sem guardar nem retirar mais nada, pois no meu subconsciente ali estava organizado. Eu sequer mexi no que tinha ali durante esses anos.

Em 2010 eu era bem diferente. Tinha outro gosto musical, curtia outros artistas, frequentava outros lugares e tudo o que era importante para mim, guardei como lembrança para o futuro. A questão é: o que fazer no futuro com aqueles objetos?

Um dos meus orgulhos de 2010 foi participar da produção do evento Rio Comicon. Nele conheci várias pessoas bacanas, que se tornaram meus amigos até hoje. Desenhistas, artistas famosos e outros que ainda não eram. Coordenei as oficinas que ocorriam simultaneamente às palestras e estandes, sendo uma semana muito intensa, que nunca me esquecerei.

Cada momento está guardado no meu coração e hoje, quando me encontro com tais amigos que conheci por lá, sempre acabamos recordando de alguns momentos do evento. Ganhei diversas revistas autografadas e guardei cada papel, pulseira, crachá, anotação, etc. Foi muito gostoso abrir a pasta hoje e me lembrar dessa época, mas ali havia também papeis que nada significavam para mim, não me faziam recordar de nada em especial, apenas do evento como um todo. Fiquei na dúvida se deveria jogá-los fora ou não, quando uma voz em minha mente argumentou: Mas tudo isso é a prova de que eu estive lá. 

É isso! Temos o costume de guardar objetos, não pelo fato deles nos fazerem recordar do que vivemos, mas sim como uma prova concreta de que foi real. Mas, se eu sei que foi real, para quem queremos provar algo? Para os outros?

Me dei conta de que guardo muita coisa com o sentimento de que aquilo é uma prova (aos outros) de que o que vivi foi real. Mas quando vamos usar tais provas? Provavelmente nunca. E para que precisamos provar algo desse tipo a alguém? Definitivamente não faz sentido.

Abri novamente a pasta e retirei tudo o que tinha dentro. Apenas poucos papeis voltaram. Apenas aqueles que realmente achei bacana guardar. Até o próximo destralhamento.

Nessa arrumação percebi que acabamos acumulando coisas pensando que no futuro vamos precisar delas para validar o que vivemos. É como uma prova de que aquilo realmente ocorreu, e mais do que isso, uma prova aos outros. Com isso, guardamos coisas do passado que nos prendem a algo que já vivemos.

Em vez de ficarmos nos afirmando quem fomos, por que não tentamos viver o que estamos sendo agora? Se um dia eu fui algo, hoje eu não sou mais. Objetos guardados pouco importam nesse caso.

E a cada dia vou construindo um novo ser, aprendendo a cada passo a me desapegar do passado e vivendo mais no presente. Não podemos construir um futuro baseado no passado, mas sim no presente. E se não estamos de fato presentes, nada faz sentido. Não importa quem fui ou quem serei. Importa o que estou fazendo agora.

Essa foi mais uma lição que aprendi. Pois para mim, cada destralhamento é um aprendizado. Cada destralhamento sou posta frente a frente com alguma situação que terei que aprender a lidar. Cada destralhamento eu me conheço mais. É uma espécie de meditação, de autoaprendizado. E isso me faz bem.

E você, vive muito do passado?

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Lista de livros para vender ou trocar

Decidi entrar em mais um desafio: reduzir consideravelmente meus livros. Alguns eu sequer li, outros abandonei por não gostar e não faz sentido manter algo que não tenho mais interesse em manter e apenas está servindo como enfeite – ou acumulador de poeiras na prateleira.

Ter livros não é status. Ler livros é o mais importante e, sejamos sinceros, alguns não combinam mais nada comigo e com meus interesses atuais. Outros já li, já degustei e fico feliz por tê-los fazendo parte da minha vida. Mas uma hora é preciso dizer adeus para que novos entrem e me façam feliz.
Decidi manter meus livros de referência, grandes livros de literatura e outros que me serão úteis no futuro para as minhas pesquisas, como os de religiões, idiomas e acadêmicos. Os que estou desapegando são esses:

  • 12 Semanas para Mudar uma Vida – Augusto Cury
  • 1984 – George Orwell
  • A Doutrina de Buda – Siddharta Gautama
  • A Hospedeira – Stephenie Meyer
  • A Nova Lei de Murphy – Emmett C. Murphy
  • A Profecia Celestina – James Redfield
  • A República – Platão
  • A Revolução dos Bichos – George Orwell
  • A Verdade sobre a Bruxaria Tradicional – Scott Cunningham
  • Academia Knightley – Haberdasher
  • Anima – John Darnton
  • Bruxa Onilda vai à Inglaterra
  • Como Conquistar um Leitor – Marilze S. Petroni
  • Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal – Allan &
    Barbara Pease
  • Escolhida – P. C. Cast
  • Férias (Pocket Book) – Marian Keyes
  • Introdução à Topologia de Lacan – J. D. Nasio
  • Kant em 90 minutos – Paul Strathern
  • Marcada – P. C. Cast
  • O Alienista – Machado de Assis
  • O Código da Vinci – Dan Brown
  • O Diário da Princesa – Meg Cabot
  • O Diário de um Mago – Paulo Coelho
  • O Ocultismo Prático e as Origens do Ritual na Igreja e na
    Maçonaria – Helena Blavatsky
  • O Poder do Agora – Eckhart Tolle
  • O Poder dos Mudras – Rajendar Menen
  • O Príncipe – Maquiavel
  • O Rei do Cinema – Toninho Vaz
  • Para Além do Bem e do Mal – Nietzche
  • Princípios de Vida. Sai Baba – Hermógenes
  • Superação pela Educação – Imídeo G. Nérici
  • Sushi (Pocket Book) – Marian Keyes
  • Traída – P. C. Cast
  • Triste Fim de Policarpo Quaresma – Lima Barreto
  • Uma Vida com Sai Baba – Judy Warner
Se alguém tiver interesse, pode ver a lista lá no meu Skoob. Sugestões também são bem vindas! Caso queiram comprar algum, entrem em contato comigo por aqui mesmo pra combinarmos um valor bom pra ambos.

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O Corvo – Edgar Allan Poe

~ Edgar Allan Poe
Tradução de Fernando Pessoa 
ritmicamente conforme o original

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais”.

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais –
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
“É o vento, e nada mais.”

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome “Nunca mais”.

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos – mortais
Todos – todos já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo, “Nunca mais”.

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este “Nunca mais”.

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele “Nunca mais”.

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse. “Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!

The Raven musicalizada pelo grupo Omnia: